quarta-feira, 22 de abril de 2009

Carne Torpe (texto da capa)


Sete da tarde.

Às sete em ponto. Quando tiveres chegado com as compras que ficaste a dever ao merceeiro, estarei aqui, à espera, sentado, com um copo de vinho à frente, a desenrolar da língua mais um interminável pedido de desculpas...
Poderia escrevê-lo, enquanto a hora está longe, assim escaparia à pressão de beber um copo atrás do outro e ficar irremedialvelmente bêbado.
Podia forjar um discurso pomposo e decorá-lo e depois, debitá-lo com toda a calma... Podia esperar pelas tuas perguntas, ou assistir impassível ao teu silêncio tempestuoso de quem ignora a minha presença. Podia fazer de muitos modos, mas não tenho certeza nenhuma, a não ser que chegarás às sete em ponto, como de costume, com o teu ar vermelho arredondado de minhota ocupada.
Os discursos premeditados são falsos, e tu intervirias a meio do primeiro olhar para me acusares de cobardia ocular ou me fechares as pálpebras com um bofetão sentido. haverias de convidar a tua mãe, cheia de beatitudes balofas para aperaltar o nome de Deus em frente do meu copo de vinho laico,(...)

Sem comentários:

Enviar um comentário