terça-feira, 24 de outubro de 2017

Fado da Esposa Solteira

Tu
Que chegas sempre tarde
Tu
Que ages sem amor por mim
Olha
 Paciência também arde
E
Como a paixão 
Também tem fim.

Disse um dia isto ao jantar
Ela, que fala sem pensar
Disse-lhe, então:
- Como quiseres
Pois, a fleuma - sei-o bem! -
É virtude de outras mulheres.
E agora pensa o que quiseres
Que sou machão e insensível
Ou petulante e irascível.

Leva a tua pressa para a rua
Lava e passa a roupa que é tua
Leva a graxa p´rós sapatos
Lava as mãos como Pilatos
Leva sabido e bem gravado:
Podes chorar e estrebuchar
Podes vir cantar o fado
Que eu não volto a ser tua

Assim falou aquela que mais amo
Limpas as mãos em branco pano
Feitas as contas ano a ano
Fechada a porta e a fechadura
Sem complacência ou mesura
Sem um abraço pelos danos
Sem uma gota de ternura.

E foi assim desta maneira
Que a minha esposa ficou solteira.