quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Moro onde começa a cidade

Moro onde começa a cidade

Vejo-a de cima

Debruçada na varanda.

Uma chusma de pregões dispersa

Sobe pelas fissuras das casas

Entra-me pelas narinas

Em aromas de salsa e coentros

Que sobram aos cestos cheios

Alinhados num chão pétreo.

Os infantes ciganos retesam-se nas tendas

Acima do frio e da bruma

Soltam aplausos às próprias palavras

chispadas pelo olhar agudo de um pai.

Acordo onde começa a cidade

Das igrejas manda-se o tempo passar

Sonoramente

A cada quarto de hora

Um galo canta até que seja meio-dia.

Piropos escorrem brutamente

Das bocas dos feirantes

Moças redondas escorregam torpemente.

Uma mãe passa por outra mãe

Perante o meu olhar que desperta

Sopesam-se

Tudo é som, cheiro e alimento.


Moro onde começa a cidade

Entre as mães

E a vida.