quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Para uma primeira leitura de Não Sabias o Que Levavas às Costas?

Qual é o momento da vida em que somos mais fecundos, mais capazes, mais felizes?
Por que tratamos os mais velhos como inválidos, incapazes, ineptos?
Esta é a sociedade da rejeição do erro, da vergonha da falha, uma sociedade com um acesso descontrolado ao conhecimento, mas com pouca sabedoria. Conseguem explicar-me em que momento é que estes dois conceitos se separaram?” – Indaga Matilde, a anciã, personagem central de Não sabias o que levavas às costas?
A questão do título (roubada a Goya) não é A questão, é só mais uma, de um avolumar resultante de uma contemporaneidade volúvel, carregada de incertezas e desapegada de afectos.

Não sabias o que levavas às costas? conta a história de Matilde, uma mulher do Minho rural, sem nada de especial, que resolve mudar de vida, pedindo o divórcio, no dia em que comemora as bodas de ouro. A evolução (surpreendente) da vida dessa personagem força à reflexão sobre a forma como a sociedade actual trata os mais velhos.

http://vimeo.com/109445130

domingo, 19 de outubro de 2014

Novo filho de papel


Nunca se poderá saber até acontecer. É assim com a maternidade, é assim com o amor, é assim com a morte. É assim com o não vivido. Mas sabemos que depois dos milagres da maternidade, do amor e da vida, o desejo da eterna ampulheta da existência se prolongam vivos dentro de cada ser humano. Não, não se abdica das lágrimas, do suor, da maior angústia, só pelo desejo de retornar eternamente aos lugares onde a felicidade ganhou, por um dia, por uma hora, por um momento incontável, a forma do rosto que queremos ver antes da derradeira despedida. É a isto que se chama estar vivo. Tudo o resto é um amontoado de episódios escritos por sabe-se lá quem, que pode perfeitamente ter uma desastrada falta de talento para a escrita.
É precisamente sobre a escrita que falo agora. A minha escrita. A que não pedi a ninguém, mas que vive em mim, como se fosse mãe, como se fosse amor, como se fosse o último fôlego da minha vida, como se o rosto que Verónica limpou tivesse sido sempre o meu e o que um dia ficou para sempre inscrito naquela toalha fossem estes meus filhos de papel.

Chegará a outras mãos, por estes dias, mais um destes filhos. É o melhor, o mais desejado, atributos que já um dia foram dados a outros e que não retira sinceridade alguma a tudo isto. 
É este o meu eterno retorno: os livros que não sonho que escrevo, mas escrevo mesmo assim. Escrevo, de facto, escrevo dentro da realidade que tantas vezes desprezo, mas da qual nunca me aparto. Entre este e outros partos, sei que não parto, sei que não vou a lugar nenhum, se o meu encontro não for brindado com as vossas leituras dedicadas a estes filhos de papel.
Não tenho mais que vos deixe. Só, talvez, abraços no corpo esfíngico da memória, que nunca sabe o que leva às costas.

sábado, 18 de outubro de 2014

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Top 10 de características que (pelos vistos) fazem de mim uma freak


1.       Não morro de amores nem por sexo nem por chocolate;
2.       Não falo das minhas relações abertamente, a não ser com as minhas relações;
3.       Tenho 40 anos e não sou mãe nem faço questão de ser;
4.       Não tenho, nem ambiciono ter, uma carreira;
5.       Escrevo livros que não vendem e isso pouco me importa;
6.       Sou uma actriz do catano, mas detesto estar em palco;
7.       Tenho duas cicatrizes na testa, desde que me lembro de ser gente;
8.       Detesto jogos (talvez porque sinta uma natural propensão para o vício);
9.       Suspeito que vá morrer precocemente e isso alivia-me;

10.   Professo uma só fé: a do Amor;

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Um mundo madraço: se não dá trabalho, faço!


As redes sociais são, como se sabe, um espelho completo da humanidade. Acredito mesmo nisto, não estou a usar de ironia, que é coisa que eu só não gasto se não puder MESMO! Faço delas uma utilização conveniente, como acho que acontece a muita gente: aproveito os posts com notícias dos amigos espalhados pelo mundo para ter uma noção do que o mundo espalha, porque aqui onde estou não me chegam jornais e, desde que as edições online do PÚBLICO e do EXPRESSO me começaram a ameaçar com a leitura de apenas mais um artigo, deixei de lhes dar importância. Sou assim: amuo com jornais nacionais! Enfim, feitios!...
No fundo eu queria era falar do Obama e do seu minutozinho de impubescência nas cerimónias fúnebres do Mandela: aquele acto que disseminou o selfie à escala global e imparável da estupidez. Nem sei bem como me referir ao selfie, qual é o género da palavra? - Masculino, Feminino, Neutro… Electrão?!
Enfim, não deixa de me maravilhar a forma como certos actos se tornam num fenómeno de popularidade tão grande! O que eu não percebo é como é que um sucedâneo do auto-retrato (a palavra é masculina, portanto) ganha tamanho esplendor. É preciso referir que Van Gogh se matou à custa de tanta produção desse género. Quer isto dizer que nos espera uma sociedade de selfie-suicidas em massa? – Não me parece. Van Gogh matou-se de trabalho! Aquilo requeria muito esforço: ficar em frente ao espelho, horas e horas a fio, munido de cavalete, pincéis, tintas e um sentido de precisão e múltiplas intenções e até mutilações, que, muito provavelmente, o conjunto de jovens que se selfie-selfou (apostou que nem o Mia Couto se lembraria disto!) às portas de Auschwitz sob a inscrição “arbeit macht frei” deveria estar longe de compreender. Muito provavelmente, a sua atitude, e a do Obama certamente também, está nos antípodas dessa noção do trabalho que glorifica. Na verdade, este é só um mundo madraço: se não dá trabalho, faço!

 A minha pouco perturbável indolência é bastante compreensiva com esta atitude do mundo moderno: o trabalho nem liberta, nem compensa, nem dá “likes” nas redes sociais. Já um acutilante larápio, a displicência, a estupidez e o voyeurismo arrastam multidões!

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Eu, de bola e de política...

Eu, de bola e política, não sei nada. Nem parece bem a uma mulher meter-se nessas coisas!
Devíamos andar por meados da década de 80 e enunciados como este eram muito comuns. Ouvia-os da boca das minhas avós, das vizinhas, das comadres. Isso é bom é p’rós homens. E era, devia ser… não tenho bem a certeza. Sei que na mercearia do meu avô se discutia muito a bola, com grandes caralhadas e exaltações, mas que acabava sempre tudo em bem. Já com a política, não era bem assim… Não, não me refiro à qualidade do discurso, que a retórica era sempre a mesma, quer se tratasse de bola, política ou divisão das águas para a rega. Refiro-me ao acabar tudo em bem. Lembro-me de assistir ao início (ou seria já o auge, não sei que a minha avó arrastou-me dali, prudentemente) de um enorme tumulto, onde a mulher de um dos mais exaltados, com o pretexto de o acalmar, aproveitou para lhe esmurrar o nariz. – Foi aí que percebi por que não deve uma mulher meter-se nesses assuntos: se o macho sai em prejuízo, convém afastar a fêmea…
Mas os tempos eram outros e a política só se discutia quando acabava a bola. Hoje não é bem assim… que digo eu? – Não é nada assim, hoje os tempos são outros! É a maturidade da democracia, a educação, os discursos polidos em 4x4x2, na verticalidade dos passes, no entrosamento do médio ala com o avançado, e às vezes até com a baliza, tudo se entrosa no fundo, excepto quando a bola não entra na baliza adversária – aí é que está o caralho e volta tudo ao que era!
Confesso que já gostei de tudo isto um bocadinho. Adorava jogar à bola, era boa de bola, até tenho medalhas! Nestes campeonatos do mundo até sentia um certo júbilo, até dizia nós até jogámos bem, nós perdemos, mas lutando; nós isto, nós aquilo e, de facto, sentia uma espécie de multidão em mim. Confesso que tudo isso se esvaneceu. Ontem pus-me 5 minutos em frente ao televisor e nesses 5 minutos devo ter bocejado umas dez vezes. É que aquilo é chato, é mesmo chato, não há volta a dar-lhe! Sou capaz de ficar 5 horas a ver uma partida de ténis, mas sozinha, sem tremoços, cerveja e a algazarra dos amigos à minha volta, tudo aquilo me parecem movimentos ridículos e sem sentido.

O futebol nunca devia ter saído do registo do recreio: havia uma bola, um dono da bola, jogava-se à bola e o jogo acabava quando o dono da bola levava uma abada. Mais do que isso, é política e nós ainda não estamos preparados para isso.
Quando começa o campeonato?

Anos de vida

O que nos prende à vida é a depuração que enjeitada e continuamente lhe fazemos às esquinas, os vértices que limamos mesmo depois da sua aparente perfeição. O que nos prende à vida é ela não estar nunca completa, mesmo quando nos parece que acaba.
Não tenho o hábito de reflectir sobre a vida, porque a própria vida tem arranjado maneira de me pôr nela reflectida. Mas hoje há gente, que me interessa que celebra anos de vida, os anos deles, onde eu também estou, puseram-me a pensar naquilo que nos falta fazer. Sobre os aniversariantes em causa sei de um ou dois sonhos por cumprir e sei que cada um deles vai fazer por conservar esses sonhos ou vai cozinhando outros no processo de sonhar estes. É gente que ama o sonho, que ama o sonho da vida.
Antes, muito antes do meu sobrinho mais velho nascer há 22 anos, já a Paula era minha amiga e sonhava. Creio que, apesar desta coincidência da data e de eu coincidir no meio deles há tanto tempo, com tanto amor, nunca se encontraram. Não são caso único: há uma série de gente na minha vida desde que eu me lembro de ser gente que nunca partilharam o mesmo espaço.
Sei que não faço das minhas parcas glórias uma divulgação excessiva, mas ainda assim, partilho coisas de muito menor interesse do que isto de celebrar amorzades. Devia fazê-lo todos os dias. Devíamos ter uma celebração por dia, um amigo para e com quem celebrar a vida todos os dias. E eu, se não me distrair, talvez até tenha sem recorrer a grandes depurações, até porque a amizade não está num dos vértices da vida, está bem no miolo e não se aperfeiçoa à base de limas. Nada está completo a não ser esse miolo. A vida continua já a seguir, deixando tudo por fazer.

Parabéns, meus amores!

terça-feira, 10 de junho de 2014

A propósito do trabalho em "a voz humana"...

O mais complexo jogo de mentira e verdade joga-se em palco. Em nenhum outro lugar a verdade é tão escrutinada. Em nenhum outro lugar se sentem tão curtas as pernas da mentira, do contrariar o sentir, que é o que define a mentira, no fundo.
 Em nenhuma outra situação a realidade é tão cruel, porque é o actor que a impõe a si próprio e com ela vive por momentos únicos, mesmo que isso contrarie toda a sua natureza. Para ser verdadeiramente livre na representação, o actor deve autocorrigir-se, mas deixar de lado a autocensura – tarefa quase sempre complicada, porque a censura faz parte do trabalho do actor. Daí que um actor que se
autodirige só pode ter tiques de fascista. Esse trabalho censório, ou de limpeza, se preferirmos assim, é feito pelo olhar do encenador (externo ao acto de representar em si, mas não aos seus sentidos). O encenador é o único responsável pela administração da razão. O actor não pode nem deve ser razoável. É uma tremenda luta interna, mas acima de tudo, em palco procuro perder a razão, deixar-me levar.
Era isto que vos queria dizer: o triunfo de um actor é nunca achar-se sozinho. Nem no seu sentir, nem na verbosidade. O estar em palco, ainda que num monólogo, como é o caso aqui, é a reunião mais absoluta de humanidade. O actor não deve nem pode distrair-se de si nem do público, mas se o público se distrai de si e do actor, o actor fracassa. Aqui reside a maior crueldade da representação: é no fracasso que o actor fica sozinho, precisamente quando mais precisava de alguém.
Penso nisto porque me têm confrontado com o suposto acto de coragem de me fazer a um monólogo. Ainda para mais, este monólogo! Não considerava que isto fosse um acto de coragem e, em si só, não o é. O enquadramento que faço da coragem é outro: ter coragem é criar relações e mantê-las. Ter coragem é abdicarmos de nós. Ter coragem é cuidar. Ter coragem não é falar, é saber escolher os momentos para se dizer. Ter coragem é saber falhar. Ter coragem é ser contraditório e assumir as contradições. Isto digo eu de mim para mim e, no fim de todas estas assumpções, concluo que tudo isto se congrega em palco.

Sei bem que um monólogo não admite falhas e, então, aqui, a minha noção de coragem é mais abrangente em palco do que fora dele. Eu, no entanto, não sou corajosa: tenho apenas uma dose excessiva de loucura: representar é o modo mais eficaz de repor os índices de lucidez. Contraditório?! – Talvez. Há que viver com isso.

sábado, 5 de abril de 2014

Nota de Suicídio

Caro/a utilizador/a da rede social “facebook” que um dia, sem saber porquê, me amigaste,

Se esta é a primeira vez, ou – vá lá – a segunda que abres um documento deste blogue, nitidamente não és meu/minha amiga, nem tens qualquer interesse naquilo que tenho para dizer. Pelo contrário: se só hoje vieste aqui é porque te interessa o meu silêncio… Gostaria, portanto, de te pedir um favor muito encarecidamente: “desamiga-me”! – Poupar-me-ás imenso trabalho!

Grata pela atenção!

Eugénia Brito

P.S - Caso o português não seja o teu forte, repara que a oração relativa usada na saudação é restritiva... ou não! Não faças caso!

terça-feira, 1 de abril de 2014

Ai, Abril!

Ai Abril, Abril
Canto de cisne tão pueril
Tanto de nobre e tanto de vil
Tanto se sonha neste covil!

Ai Abril, Abril
Tantos caíram no teu ardil:
Ignorantes e doutos, gente servil
Tão resoluta e dissoluta
Gente que luta, mês após mês
nesta certeza que não se desfez:

Semente espalhada em aridez
Redunda em colheitas de insensatez.

Ai Abril, Abril
Mentira lançada como verdade
Rima com tudo o que é mesquinho
Rima com bancas, spreads, cobranças
Vidas austeras, reles poupanças
Pobreza de espírito e arranjinhos…

Ai Abril, Abril
Mais são as águas do que as mil mágoas
Mais as colheitas do que as desfeitas
E mais vitória, apesar da escória!

Ai Abril, Abril
Canto de cisne tão pueril
Tanto de nobre e tanto de vil
Tanto se luta neste covil!



sexta-feira, 21 de março de 2014

Daffodils' dust









Come and see 
My dear 
How soon the daffodils have arrived this year!

Lay your eyes upon those fields:
What a light, what a bright golden light
Daffodils bring!

See yourself in that mirror
My dear

You may find I’m just the dust
I’m just the pollen
In that mild wind of Spring.


terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Aviso: esta croniquinha pode ferir susceptibilidades


Isto é uma croniquinha sobre os ingleses.
Os ingleses são aquele povo que SABE que é o melhor do mundo.
Os ingleses não se sabem temperar sem natas.
Os ingleses vivem num casino: paga-se no talho, paga-se na peixaria - até aqui tudo bem -  mas paga-se também no bom e no mau senso. Paga-se X na segunda-feira e X ao cubo na terça-feira. Os comboios têm preços diferentes, conforme o horário e esses preços têm uma variação obscena, digna de terceiro mundo. Corre tudo bem, desde que esteja escrito num papel qualquer, ainda que assinado de cruz.
Sabem quantos ingleses são precisos para amanhar duas douradas?
– 3.
Sabem quanto tempo levam para o fazer? – 20 minutos.
Sabem quanto tempo leva a internet para ser instalada? – 22 dias.
Os ingleses têm tudo controlado. Os electricistas levam 159 libras para mudar três lâmpadas e deixam os três candeeiros que estavam avariados, mais avariados do que já estavam. Depois, prometem voltar em data certa para reparar esses candeeiros. E voltam. Os candeeiros é que não se auto-reparam. Os ingleses são muito pontuais, só que não sabem a razão pela qual chegam sempre a horas certas.
Os ingleses têm alcatifa na casa-de-banho e na cozinha. E põem natas no mexilhão, os tolos!
Os ingleses sabem protestar a horas certas sobre as horas que estão erradas, mas não fazem ideia por que se revolta e equivoca o tempo.
Se para nós tempo é tempo, para eles tempo é dinheiro. Porque os ingleses vivem num casino. Já disse isto, não disse?
Outra dia, conheci um inglês capaz de recitar 3 versos dos Lusíadas só para me agradar, embora não saiba uma palavra de português. Os ingleses são resilientes e gostam de ficar bem na fotografia. Os ingleses dizem do país que nós temos: “you know: not Spain, the other one”, claro que isto são certos ingleses, poderão não ser os ingleses certos. Mas são sempre os ingleses que vivem num casino e se temperam com natas, disto estou certa.
Os ingleses circulam pela esquerda e nunca se viu gente a andar mais à direita. Os ingleses sabem apontar o Este e o Oeste de olhos fechados, mas não conseguem indicar a Escócia. Os ingleses sabem que hoje, tal como ontem, vai chover, mas quando a chuva chega é sempre um fenómeno muito inesperado e incompreensível.
Os ingleses são um bom povo: educados, simpáticos, honestos (desde que haja um papel a confirmá-lo), se não fosse aquela certeza de que são o melhor que há no mundo, o próprio mundo poderia até encabeçá-los numa candidatura para o efeito.

E, por hoje, é o que me ocorre dizer sobre os ingleses, porque estou com uma assoberbada boa disposição. 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Carta a alguns amigos


Bathlby, Janeiro,2014
Matilde Mrs. M_ _ _ _ vai bem, obrigada!
As relações são como feridas: ou bem que secam ou bem que criam. Esta parece estar a criar. – Há que fazer por isso, como muito bem sabemos todos.
Não me sentia assim desde outra estadia no estrangeiro, no cume dos Alpes, uma pequena aldeia, onde os 49 habitantes vieram um a um ver quem era a rapariga nova do hotel (na altura ainda era uma rapariga, agora sou uma lady, como sabem). Com Matilde Mrs. M_ _ _ _   algo semelhante está a acontecer:
- “Come and meet my new portuguese friend” – diz ela ao telefone. E para mim: Tanto tempo para quê? Tudo tão ridículo, não te parece? E este diabo desta anca que não me deixa em paz (pardon my french)!... Isto, não é vida para ti, protesta.  Achas que devemos dizer às pessoas que nos odiamos? - Como podem ver, está tudo controlado!

Talvez nunca consiga agradecer à S_ _ _ _ por me ter encaminhado para aqui, mas sei que ela sabia o que estava a fazer. Sabemos ambas que somos testemunhas de um pedaço de humanidade que se extingue, que não voltará a existir, a não ser pela nossa experiência. Temos, agora, a tremenda responsabilidade de conservar estes momentos e estas pessoas na memória colectiva.

S_ _ _ _ _, não me parece que tenha tempo para um diário de bordo, como me pediste: felizmente, há muita actividade por aqui e terei que te privar disso que dizes ser a minha maior qualidade: a escrita. Não percebo como te atreves a fazer tal afirmação, depois de teres visto a minha habilidade para adormecer a M.

P_ _ _ _  F. Também posso adormecer o  teu S_ _ _ _, quando voltar…

P_ _ _ _ S. a tua/minha jumper tem sido um sucesso, embora ninguém perceba por que visto uma coisa com sentimentos tão tristes. Não tento explicar nada. Isto é gente muito amargurada pela guerra e outros dissabores que nós desconhecemos. É deixá-los estar.

A_ _ _ _, a minha arca de Noé está a ficar tão composta como a tua. Podes dizer ao A_ _ _ _ _ _, se o vires em Luanda, que já podemos fazer a versão com estrangeiros da festa do andarilho: “Zimmer frame party”. Agora sinto-me muito mais habilitada para fazer coreografias.

E é tudo, por hoje. S_ _ _ _ _ _ cuida de ti e das crianças e da minha casinha! Prometo não demorar muito por aqui, que o peixe é caro! Se vires o carteiro, diz que lhe agradeço ter descodificado a tua direcção. Se souberes de um que tenha conseguido entregar o postal da F_ _ _ _ _ _ _ _, que só dizia: F_ _ _ _ _ _ _ _ , Portugal, diz que lhe pago um jantar.
Beijinhos e abraços também para os que ainda não constam aqui, mas só porque a Matilde  Mrs. M_ _ _ _me chama.

Enjoy the marmalade!
Eugénia Miss Brito