Eu, de bola e
política, não sei nada. Nem
parece bem a uma mulher meter-se nessas coisas!
Devíamos andar por meados da
década de 80 e enunciados como este eram muito comuns. Ouvia-os da boca das
minhas avós, das vizinhas, das comadres. Isso
é bom é p’rós homens. E era, devia ser… não tenho bem a certeza. Sei que na
mercearia do meu avô se discutia muito a bola, com grandes caralhadas e exaltações, mas que acabava sempre tudo em bem. Já com
a política, não era bem assim… Não, não me refiro à qualidade do discurso, que
a retórica era sempre a mesma, quer se tratasse de bola, política ou divisão
das águas para a rega. Refiro-me ao acabar tudo em bem. Lembro-me de assistir
ao início (ou seria já o auge, não sei que a minha avó arrastou-me dali,
prudentemente) de um enorme tumulto, onde a mulher de um dos mais exaltados,
com o pretexto de o acalmar, aproveitou para lhe esmurrar o nariz. – Foi aí que
percebi por que não deve uma mulher meter-se nesses assuntos: se o macho sai em
prejuízo, convém afastar a fêmea…
Mas os tempos eram outros e a
política só se discutia quando acabava a bola. Hoje não é bem assim… que digo
eu? – Não é nada assim, hoje os tempos são outros! É a maturidade da democracia,
a educação, os discursos polidos em 4x4x2, na verticalidade dos passes, no entrosamento
do médio ala com o avançado, e às vezes até com a baliza, tudo se entrosa no
fundo, excepto quando a bola não entra na baliza adversária – aí é que está o
caralho e volta tudo ao que era!
Confesso que já gostei de tudo isto
um bocadinho. Adorava jogar à bola, era boa de bola, até tenho medalhas! Nestes
campeonatos do mundo até sentia um certo júbilo, até dizia nós até jogámos bem, nós perdemos,
mas lutando; nós isto, nós aquilo e, de facto, sentia uma
espécie de multidão em mim. Confesso que tudo isso se esvaneceu. Ontem pus-me 5
minutos em frente ao televisor e nesses 5 minutos devo ter bocejado umas dez
vezes. É que aquilo é chato, é mesmo chato, não há volta a dar-lhe! Sou capaz
de ficar 5 horas a ver uma partida de ténis, mas sozinha, sem tremoços, cerveja
e a algazarra dos amigos à minha volta, tudo aquilo me parecem movimentos
ridículos e sem sentido.
O futebol nunca devia ter saído
do registo do recreio: havia uma bola, um dono da bola, jogava-se à bola e o
jogo acabava quando o dono da bola levava uma abada. Mais do que isso, é
política e nós ainda não estamos preparados para isso.
Quando começa o
campeonato?
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