quinta-feira, 26 de junho de 2014

Eu, de bola e de política...

Eu, de bola e política, não sei nada. Nem parece bem a uma mulher meter-se nessas coisas!
Devíamos andar por meados da década de 80 e enunciados como este eram muito comuns. Ouvia-os da boca das minhas avós, das vizinhas, das comadres. Isso é bom é p’rós homens. E era, devia ser… não tenho bem a certeza. Sei que na mercearia do meu avô se discutia muito a bola, com grandes caralhadas e exaltações, mas que acabava sempre tudo em bem. Já com a política, não era bem assim… Não, não me refiro à qualidade do discurso, que a retórica era sempre a mesma, quer se tratasse de bola, política ou divisão das águas para a rega. Refiro-me ao acabar tudo em bem. Lembro-me de assistir ao início (ou seria já o auge, não sei que a minha avó arrastou-me dali, prudentemente) de um enorme tumulto, onde a mulher de um dos mais exaltados, com o pretexto de o acalmar, aproveitou para lhe esmurrar o nariz. – Foi aí que percebi por que não deve uma mulher meter-se nesses assuntos: se o macho sai em prejuízo, convém afastar a fêmea…
Mas os tempos eram outros e a política só se discutia quando acabava a bola. Hoje não é bem assim… que digo eu? – Não é nada assim, hoje os tempos são outros! É a maturidade da democracia, a educação, os discursos polidos em 4x4x2, na verticalidade dos passes, no entrosamento do médio ala com o avançado, e às vezes até com a baliza, tudo se entrosa no fundo, excepto quando a bola não entra na baliza adversária – aí é que está o caralho e volta tudo ao que era!
Confesso que já gostei de tudo isto um bocadinho. Adorava jogar à bola, era boa de bola, até tenho medalhas! Nestes campeonatos do mundo até sentia um certo júbilo, até dizia nós até jogámos bem, nós perdemos, mas lutando; nós isto, nós aquilo e, de facto, sentia uma espécie de multidão em mim. Confesso que tudo isso se esvaneceu. Ontem pus-me 5 minutos em frente ao televisor e nesses 5 minutos devo ter bocejado umas dez vezes. É que aquilo é chato, é mesmo chato, não há volta a dar-lhe! Sou capaz de ficar 5 horas a ver uma partida de ténis, mas sozinha, sem tremoços, cerveja e a algazarra dos amigos à minha volta, tudo aquilo me parecem movimentos ridículos e sem sentido.

O futebol nunca devia ter saído do registo do recreio: havia uma bola, um dono da bola, jogava-se à bola e o jogo acabava quando o dono da bola levava uma abada. Mais do que isso, é política e nós ainda não estamos preparados para isso.
Quando começa o campeonato?

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