Nunca se poderá saber até
acontecer. É assim com a maternidade, é assim com o amor, é assim com a morte.
É assim com o não vivido. Mas sabemos que depois dos milagres da maternidade,
do amor e da vida, o desejo da eterna ampulheta da existência se prolongam
vivos dentro de cada ser humano. Não, não se abdica das lágrimas, do suor, da
maior angústia, só pelo desejo de retornar eternamente aos lugares onde a
felicidade ganhou, por um dia, por uma hora, por um momento incontável, a forma
do rosto que queremos ver antes da derradeira despedida. É a isto que se chama
estar vivo. Tudo o resto é um amontoado de episódios escritos por sabe-se lá
quem, que pode perfeitamente ter uma desastrada falta de talento para a
escrita.
É precisamente sobre a escrita
que falo agora. A minha escrita. A que não pedi a ninguém, mas que vive em mim,
como se fosse mãe, como se fosse amor, como se fosse o último fôlego da minha
vida, como se o rosto que Verónica limpou tivesse sido sempre o meu e o que um
dia ficou para sempre inscrito naquela toalha fossem estes meus filhos de
papel.
Chegará a outras mãos, por estes
dias, mais um destes filhos. É o melhor, o mais desejado, atributos que já um
dia foram dados a outros e que não retira sinceridade alguma a tudo isto.
É
este o meu eterno retorno: os livros que não sonho que escrevo, mas escrevo mesmo
assim. Escrevo, de facto, escrevo dentro da realidade que tantas vezes
desprezo, mas da qual nunca me aparto. Entre este e outros partos, sei que não
parto, sei que não vou a lugar nenhum, se o meu encontro não for brindado com as vossas leituras dedicadas a estes filhos de papel.
Não tenho mais que vos deixe. Só, talvez, abraços no corpo esfíngico da memória, que nunca sabe o que leva às costas.
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