terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Revisão recente a um amor fracassado

Nos dias em que não sinto dores no tornozelo

Lembro-me daquele rapaz e da minha mocidade

E de tantos momento para mim de zelo

E, para a minha mãe, pura leviandade!


Nos dias em que a artrose não me ataca

E me leva à cama ou me põe numa maca

É que me lembro daquele mancebo

De mãos ásperas e braços fortes

A medir-me as ancas, a gabar-me o porte

A tirar-me da cara o palminho que deus me deu

E a pôr-me no corpo, outro palminho bem seu.


Só nos dias em que a vesícula parece rebentar

É que me vem à cabeça aquele peito de pedra

Aquele moço de vigor e de saúde que medra

Aquele cortejar, adocicando-me a bílis

Uma espécie de selo que me dava forma

Um ex-líbris que o passado adorna

E foi antes, muito antes

Do reumatismo, das artroses ou das vesículas biliares

Que um dia o vi a ir pelos ares.


Lembro-me bem de como fugia

Qual acrofóbico a subir para as nuvens

De olhos fechados e sem se voltar

Segurando a mão de outra, todo contente

E eu feita em lágrimas e espasmos de dor

Néscia na vida, ignorando o amor

Julgava o corpo apenas doente.


Enrolando dias, desfiando histórias

A vida cresceu como um novelo

E num baile de boas e más memórias

Voltam-me as dores no tornozelo

Ocorre-me isto (e não é que goste):

Partir corações e andar de avião

Sempre se fez por meio tostão

Que fará agora, com tanta Low Cost!...

Sem comentários:

Enviar um comentário