Meti a cabeça para espreitar a vida da minha amiga boneca de Sarjevo http://paulasarajevo.blogspot.com/ e dei com a frase: “continuam a enterrar os mortos…”Eu já tinha lido esse texto e já tinha sentido tudo.
Tudo, bem entendido, quer dizer tudo o que a frase e todo o contexto são (ou foram num dado momento) susceptíveis de me causar. Tudo é eu dizer isto de várias formas, sem que ninguém verdadeiramente perceba o que eu disse, muito menos o que eu terei sentido. Tudo, no contexto supracitado, significa moldar e mudar repetidamente com palavras e imagens pretensiosas aquilo que de facto interessa: os factos. E os factos são estes: continuam a enterrar os mortos da guerra dos Balcãs, em Srebrenica.
Ora, eu meti a cabeça, li a frase e afastei a cabeça… Tive um esgar, arrastei as covinhas da cara até às orelhas e pensei: “uiiii! Não quero ler isto!”. São tantos os dias em que afasto a cabeça, tapo os ouvidos e fecho os olhos sobre a realidade, que contá-los (para além de ser um exercício redutor e chato) seria quase perceber um certo autismo social. É verdade. E outra verdade é que me sinto mal por isto, aí um minuto por semana. No meu caso chega. Aliás, se intervir implica um mal-estar, que ele não seja duradouro! É que eu acredito que o mal-estar é contraproducente e, uma pessoa verdadeiramente interventiva precisa de tempo para observar, reflectir e alertar, como é óbvio.
Por esta altura, o assunto da minha amiga boneca já deve ter sido apagado da cabeça de quem lê isto. O mesmo efeito, e, nas devidas proporções, devem ter provocado os milhares de textos escritos em toda a Europa, por causa daquela ideia (como designá-la? Estapafúrdia (!) que os suíços tiveram ao referendar as construções dos minaretes. Eu, que sou sempre renitente em dar opinião sobre estas coisas da arquitectura, não quero demonstrar agrado, nem desagrado… Queria só alertar para o seguinte:
Isto para Portugal até pode não ser mau de todo! - E porquê? - Porque seguindo esse belo exemplo democrático da Suiça, cheira-me que não tardará muito a propor-se um referendo para a construção de um joelhometro nacional, a demolição de 5 ou 6 igrejas matrizes, que não interessam nem ao bispo de Braga, e seremos também questionados sobre a aprovação da ida ou não da ASAE para a Suíça, enquanto entidade reguladora dos minaretes domésticos, que seguramente, doravante, irão proliferar por lá. Supõe-se que cada multa ascenderá a um preço razoável para pagar todos os referendos imbecis que os estados hiper-mega-democráticos europeus decidam fazer, no futuro, e que os nossos cofres ficarão finalmente,cheios , à custa dos suiços. Mas… eu de arquitectura percebo pouco e de higienização cultural percebo menos ainda, graças a... Coiso!
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