Era domingo e abri o jornal
Procurei notícias
acto contínuo, nada cuidado
Pouco é tratado em Portugal.
Títulos amarelos a imitarem o sol
Alimentam-me a vista com colesterol
De página para página o corpo transforma-se
O peso não muda (vive na inércia)
É mesmo a massa de suposta constância
que altera a matéria em abundância.
Revolvo as páginas quase à porfia
A ver o que muda de dia p’ra dia
A lei não existe, o direito é marreco
A ignorância grassa de beco p’ra beco
A páginas tantas, lê-se uma prece
A este país que ainda amanhece
Mas logo um céptico ilude a matéria
E diz que se trata de doença venérea
O contágio alastra de forma imparável
E o céptico tem uma ideia que diz formidável:
Propõe um concurso de textos sem temas
e um mau discurso, cheio de edemas
Incho de ideias que não sei explicar
Arde-me a testa, tremem-me as mãos
E não consigo parar de rimar
Fecho o jornal, amarfanho o céptico
Meto à boca um antipirético.
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