quinta-feira, 2 de julho de 2009

Sem Título.pt

Venho de uma visita breve a Portugal, porque me cabe na cabeça que para isso não são precisos motivos, basta ser-se português. Eu não sei muito bem como se explica o que significa ser-se português. Mas ocorre-me que isso de se definir um povo é um exercício de vaidade que resulta do facto de se querer ser outra coisa qualquer ou de se estar noutro lugar qualquer. Alheia a esta explicação não será a mobilidade atribuída ao povo português, desde que uma padeira em Aljubarrota pôs a arder uns quantos castelhanos, coisa que na altura lhe ficou muito bem.
Em Portugal costuma falar-se muito das coisas que ficam mal e muito pouco das coisas que ficam bem. E talvez se defina este povo através disso. Se não, vejamos: Fica mal sair à rua sem o cuidado do detalhe na indumentária, por exemplo;fica mal vestir de branco em Janeiro, fica mal não estar no pico do bronzeado logo que entra Junho e não ter dado um pulinho ao Algarve nas férias da Páscoa, fica mal não ir à missa do galo, fica mal dizer bem de coisas nacionais, fica mal ter uma conta a prazo num banco qualquer e ter acesso ao dinheiro, fica mal falar bem do governo de Sócrates ou da oposição do governo de Sócrates e, sobretudo, fica mal não saber o resultado do Benfica - Paços de Ferreira da época 1999/2000. A mim deve ficar-me muito mal saber esse resultado e até falar de bola, porque há coisas que ficam mal na boca de certas pessoas. Só por isso.
Eu não vejo nenhuma incompatibilidade entre gostar de escrever e gostar de ver um jogo de bola. Pelo contrário, acho que futebol é literatura e reconheço poesia nas mãos da esteticista do Cristiano Ronaldo. O que me parece mal é que as pessoas não saibam às quatro da tarde de um dia qualquer o que é que o Cristiano Ronaldo comeu ao almoço e se a Paris Hilton se engasgou ou não, enquanto lhe aplicava um falaccio. E por falar em Cristiano Ronaldo (assunto completamente arredado da actualidade, diga-se), outra coisa que fica muito mal é admitir que ele é paneleiro, larilas, amaricado ou gay. Eu concordo que isto não se deve dizer (muito menos escrever!), mas fui vendo coisas que tais escritas em revistas e alguns pasquins diários de Portugal, citando esse outro grande vulto da humanidade, a incontornável (tão incontornável que nem os dribles do Ronaldo a fintaram) Paris Hilton, que afinal acha apenas (acreditando na versão de um jornal menos sórdido) que ele tem um contacto demasiado forte com o seu lado feminino.
Quando comecei a escrever este texto tinha em mente falar sobre assuntos que sociologicamente pudessem definir e explicar o povo português. Não era minha intenção falar de falaccios ou de opções sexuais de pessoas famosas por serem famosas. Mas, no entretanto, acho que perdi o fio à meada. Ou não. Estou convencida que para a grande maioria do povo português, pouco importa que os seus ordenados mixurucos não sejam aumentados na próxima década, contando que Portugal vá ao mundial e traga a taça, e que o Cristiano Ronaldo permaneça por Madrid como digno sucessor da padeira de Aljubarrota e continue a promover a “tonteria” dos castelhanos.

Sem comentários:

Enviar um comentário