As redes sociais são, como se sabe, um espelho completo da
humanidade. Acredito mesmo nisto, não estou a usar de ironia, que é coisa que
eu só não gasto se não puder MESMO! Faço delas uma utilização conveniente, como
acho que acontece a muita gente: aproveito os posts com notícias dos amigos espalhados pelo mundo para ter uma
noção do que o mundo espalha, porque aqui onde estou não me chegam jornais e,
desde que as edições online do PÚBLICO e do EXPRESSO me começaram a ameaçar com
a leitura de apenas mais um artigo, deixei de lhes dar importância. Sou assim:
amuo com jornais nacionais! Enfim, feitios!...
No fundo eu queria era falar do Obama
e do seu minutozinho de impubescência
nas cerimónias fúnebres do Mandela: aquele acto que disseminou o selfie à escala global e imparável da
estupidez. Nem sei bem como me referir ao selfie,
qual é o género da palavra? - Masculino, Feminino, Neutro… Electrão?!
Enfim, não deixa de me maravilhar
a forma como certos actos se tornam num fenómeno de popularidade tão grande! O
que eu não percebo é como é que um sucedâneo do auto-retrato (a palavra é masculina,
portanto) ganha tamanho esplendor. É preciso referir que Van Gogh se matou à
custa de tanta produção desse género. Quer isto dizer que nos espera uma
sociedade de selfie-suicidas em massa? – Não me parece. Van Gogh matou-se de
trabalho! Aquilo requeria muito esforço: ficar em frente ao espelho, horas e
horas a fio, munido de cavalete, pincéis, tintas e um sentido de precisão e
múltiplas intenções e até mutilações, que, muito provavelmente, o conjunto de
jovens que se selfie-selfou (apostou
que nem o Mia Couto se lembraria disto!) às portas de Auschwitz sob a
inscrição “arbeit macht frei” deveria estar longe de compreender. Muito
provavelmente, a sua atitude, e a do Obama certamente também, está nos
antípodas dessa noção do trabalho que glorifica. Na verdade, este é só um mundo
madraço: se não dá trabalho, faço!
A minha pouco perturbável indolência é
bastante compreensiva com esta atitude do mundo moderno: o trabalho nem
liberta, nem compensa, nem dá “likes” nas redes sociais. Já um acutilante
larápio, a displicência, a estupidez e o voyeurismo arrastam multidões!