segunda-feira, 21 de setembro de 2009

M.S.T, esse grande partido!

O M.S.T (podem fazer desta sigla o que quiserem, que eu pouco me importo) é um quase-escritor, que recentemente parece ter editado um quase-romance, onde parece que escreve quase-português como sempre escreveu, pois não está para se sujeitar àquilo que apelidou de forma peremptória e leviana de “acto colonial do Brasil sobre Portugal, com regras não recíprocas”.

O M.S.T, como muita gente que grita horrores sobre o acordo ortográfico, importa-se certamente pouco com o facto de o português ser uma língua viva, saudavelmente viva e que essa saúde vingue do facto de manter, lado a lado durante séculos, tremendas variedades linguísticas, concepções de ortografia absolutamente estapafúrdias, mas conseguindo, ainda assim, ao longo dos tempos, manter um equilíbrio entre a fonética e a etimologia, que só poderá advir de uma reciprocidade tácita (se tivermos em grande conta as palavras de M.S.T. a reciprocidade através de regras e acordos não parece muito plausível) . Estranho é que, com tamanha extensão geográfica e insondáveis discrepâncias culturais, se consiga ainda hoje identificar este idioma em tantos cantos do globo. E, a mim, essa é uma estranheza que me agrada e que me interessa preservar. Aos outros não sei, mas a mim interessa-me.

Se as sucessivas reformas feitas ao português, de um lado e do outro do Atlântico isoladamente ou em conciliação não nos mataram a língua, não há-de ser agora mais esta tentativa de a uniformizar que o vai conseguir, parece-me até que o objectivo é a preservação e não o contrário. Parece-me que outras vontades virão e que as reformas terão obrigatoriamente que se suceder a um ritmo bem mais acelerado do que este a que nos habituámos. Parece-me que não farei esforços desmesurados para escrever segundo as novas regras, porque sei que só o tempo e o uso me deixarão completamente confortável nos novos registos. Gosto de pensar que a língua é um ser vivo, que cresce, que se transforma e que se deixa, às vezes, agarrar por línguas-de-trapo, que a confundem e esmagam, mas que também a rejuvenescem e alimentam. Gosto disto tudo e, à semelhança da maior parte das vozes que se levantam contra o acordo, sou preguiçosa e comodista e não me apetecia agora estar a alterar hábitos de escrita e (pior do que isso!) ter que o fazer com a responsabilidade de quem a ensina e de quem (por irreverência e pouco juízo, certamente) a verga a metáforas e outras vaidades! Sim, de facto, para mim era muito mais cómodo que nada se alterasse. Muito mais aborrecido, também, garanto.

Que fique bem claro o seguinte: eu não quero opinar sobre este acordo ortográfico, até porque, grosso-modo, nem tenho opinião, que isso (é sabido!) é coisa que dá trabalho. O que eu queria era manifestar o meu repúdio por esta declaração do Sr. M.S.T e, já agora aproveito, por todas as outras que ele tenha proferido antes e depois desta, mesmo aquelas que tinham hipóteses de ser interessantes, mas que ele consegue com uma deselegante arrogância (porque há aí uma variante de arrogantes elegantes, a que ele não pertence) destruir. Essa declaração sobre o acordo, de resto, nem sequer foi arrogante, foi apenas leviana e triste. O que vale é que este senhor é um grande partido! (entendei o que considerardes a melhor sugestão de espírito e lede isto com sotaque eclesiástico, a ver se nosso senhor vos guarda e protege de todos os colonialistas futurosjjjjjjj.

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