quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Um capítulo curto e grosso de um livro sem nome


II
Na confusão dos sonhos procuramos pontas soltas, pomo-nos logo a uni-las. Voltamo-nos na cama sem saber que nos voltamos, a não ser que estejamos acompanhados, falamos alto até em línguas que desconhecemos, somos capazes das maiores resoluções. Os problemas são coisa do estar acordado. A terra dos sonhos é a mesma da poesia.
E, no entanto, acorda-se para se agir. Perdi todos os versos que sonhei, não haverá meio de os recuperar, fica-me, ao acordar, este amargo de boca constante. O café que nos põe no mundo atira-nos, num ápice, para a sanita: ali nos despejamos. Não há metáfora nenhuma nisto. O único lugar onde nos despejamos verdadeiramente é esse, caso exista. A única coisa que verdadeiramente se despeja de nós é o que ali fica. Tudo o resto, o dia que se avizinha, as acções que nele pousarem, apenas metáforas.

Sem comentários:

Enviar um comentário