sexta-feira, 16 de novembro de 2012

As pessoas mais feias do mundo.



Eu não gosto de políticos e desengane-se quem julga concordar comigo por não lhes sobrarem motivos válidos para essa antipatia. Estou convencida que o maior motivo para o meu desagrado com os políticos se prende com a aparência. Redunda este raciocínio na seguinte intolerância: eu não gosto de políticos porque eles são feios. É só isto. Não se pense que há mais do que isto. Vivemos numa sociedade em que pensar acima disto é retroceder à espécie de Neandertal (ou assim), e eu sou, em larga medida, sapiens-sapiens.
Para que não julguem que isto é um devaneio, resultante do austero período que atravessamos, apresento-lhes a título de exemplo, um caso da minha intimidade: Havia na minha adolescência um rapaz muito giro a quem uma vez, à custa de tanto provocar proximidade, ouvi o seguinte: “um dia, serei Presidente da Câmara”. Na minha cabeça, esse rapaz passou de bestial a besta antes mesmo de pronunciar a palavra “Câmara”. Os seus olhos, onde antes distinguia apenas a cor paixão, ficaram subitamente enturvados de mate; o porte, que sempre me parecera distinto e elegante, começou um prolongado entorpecimento a partir das mãos, e onde antes se formavam sorrisos, apareceram, desde essa fatídica sentença, dentes amarelos, encavalitados uns nos outros, pendendo abusivamente por cima da mandíbula. O príncipe da minha adolescência metamorfoseara-se no mais abominável dos sapos com dentes, apenas e só por ter demonstrado uma certa inclinação para cargos políticos.
Portanto, fica provada a longevidade da minha repulsa por sujeitos políticos e fica também a descoberto uma grande mancha na minha conduta: o preconceito de imagem. Felizmente, ninguém me pode acusar de segregar minorias, porque esta espécie tem vindo a propagar-se em tão larga escala, que suportá-los é algo que fica muito acima das nossas possibilidades.
 Longe vão os tempos em que o presidente da junta era o merceeiro, que ganhava eleições distribuindo folhas de bacalhau pelo Natal, e a isso ninguém chamava suborno nem caridade, chamava-se “jeitinho”. Agora, na mesma quadra, passam pelas casas à cata de grelos e ainda pedem marmita, dizendo que é um esforço necessário para um bem comum. É comum, sim senhora, é cada vez mais comum e esse é o maior problema: a coisa normalizou-se e nós já não nos importamos: damos os grelos, a marmita e ainda lhes guardamos roupa velha para o dia seguinte.
Se ao menos isto se passasse numa terra de políticos bonitos… Mas os políticos são, de longe, as pessoas mais feias do mundo. 

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