quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Razões de sobra para isto dos livros


A propósito do último post e essencialmente para aqueles que estão a pensar: “ah, grande coisa, vender 600 livros num ano!”, tenho várias coisas a dizer:
Primeiro: é uma grande proeza, sim senhor, distribuir livros de uma escritora que nunca ninguém viu nem em revistas, nem em jornais, muito menos em televisões (sobre isto não me alongarei, pois tomo os escassos leitores deste espaço como pessoas razoavelmente inteligentes e bem informados ao ponto de perceberem o funcionamento do mercado livreiro neste país).
Segundo: Distribuir um livro sem editor e sem distribuidor é obra de gente movida a muita paciência, persistência, um travo de loucura e, essencialmente, amor - Aqui há de tudo isso em doses generosas.
Terceiro: Não há público leitor em Portugal. Há umas pessoas que leem uns livros e, essas pessoas e esses livros repetem-se muito. Nenhum dos supostos amantes de literatura deste país se atreve por uma leitura não referenciada.
Quarto: o meu livro só seria referenciado se eu fizesse aquelas coisas inauditas que as pessoas fazem para que os críticos gostem de os criticar. É sabido que eu não faço coisas inauditas. A única coisa que faço, em relação a isso dos livros, é escrever, com o intuito de, de vez em quando, escrever excepcionalmente bem. Mais do que isso é fastidioso.
Quinto: Se uma editora (daquelas a sério, como ainda há quem julgue existir em Portugal) tivesse editado o meu livro, seguramente, há mais de um ano que ele estaria fora de circulação e grande parte da edição poderia muito bem ser dada a abate.
Sexto: as livrarias portuguesas sofrem imenso com a falta de hábitos de leitura neste país. Eu tentei perceber como sobrevivem, tentei até ser solidária com elas ao dar-lhes o exclusivo desta edição (as grandes superfícies comerciais foram propositadamente excluídas da distribuição). Muitas não souberam apreciar o gesto, outras ganharam novo alento com a ideia, outras desapareceram a meio do processo. Eu, no fundo, não fiz mais do que saber de tudo isto por dentro.
Sétimo: os escritores portugueses não se importam de ser mal tratados. Não se importam com a miséria de direitos de autor que ganham ou não ganham, ou perdem, ou até nem sabem muito bem o que isso significa. Ganham dinheiro através da escrita, mas não necessariamente com aquilo que escrevem. E aceitam isso. E acham isso razoável. Acham aceitável autoproclamarem-se escritores porque fazem aparições em sítios, como aquelas pessoas dos reality shows. Seja como for, os escritores portugueses sofrem imenso com a falta de hábitos de leitura neste país, tal como os livreiros; quanto mais não seja porque amam os livros e porque é triste ver os que amamos votados à solidão e ao abandono.
Oitavo: “livros são papéis pintados com tinta”, quem não percebe a ironia contida neste verso, pode voltar a ler tudo de novo.

2 comentários:

  1. Oi Eugénia!
    Infelizmente estes mesmos problemas ocorrem no Brasil, e provavelmente em todos os países do mundo, não apenas os lusófonos.
    Quiçá o problema não seja a escrita, mas a ARTE em geral: ser artista é pensar diferente e lutar por se expressar, sabendo que será muito difícil, independente da arte, do tempo ou do local.
    Triste sina a nossa... Mas anime-se, pois poderia ser pior: poderíamos ser um daqueles que não valorizam a arte!
    []s!

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    1. Obrigada, Alexandre por passar aqui, vindo de tão longe!:)

      Não considero que seja triste a sina. Poderá também sê-lo, mas muito disfarçada no meio de outros sentimentos mais empolgantes. Artistas e masoquistas (ainda) não são sinónimos!

      Boas leituras e outras diabruras de artista!

      Um abraço!

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