Não me cabe na cabeça que haja alguém
satisfeito com o que se está a passar no meu país. Estávamos todos cá, antes do
dia 15, mas nesse dia, todos vimos que despertar quem não está é possível.
Muitos estivemos na rua em protesto, uns de cabeça mais perdida do que outros. Conheço
gente que nunca esteve tão bem financeiramente e que estava lá também. Já não é
verdade que só reclamamos quando nos vão ao bolso, já há consciência política e
solidariedade e uma vontade de nação. A coisa cresce, finalmente, Abril chegou
à vida adulta.
Não é preciso ser-se um génio
para tirar conclusões sobre a insatisfação geral. Os génios fazem falta, isso
sim, para nos tirar da situação em que nos encontramos. Levou-nos muito tempo
para percebermos o que representa a representatividade política e não sabemos
em quem confiar, mas sabemos já bastante bem em quem não se pode confiar.
A
vontade com que muita gente se julga salvar numa economia paralela não é apenas
o exercício do “salve-se quem puder” é, isso sim, a prova de um profundo
descrédito nas instituições. Ou alguém acredita que são apenas os bandidos, os
facínoras, os políticos corruptos, os criminosos e os Xicos espertos que a
fomentam? Pois digo-vos que há nisto muita gente honesta e que já todos os
conceitos valem o seu oposto. E que tudo isto é desolador.
Num cenário (pouco provável em meu torpe
entender) de dissolução de parlamento e convocação de eleições antecipadas,
será este Abril adulto digno da sua maturidade? Será capaz de, finalmente,
saber fazer-se representar com dignidade e coerência? Ou irá continuar a lançar
votos “seguros”, escondendo-se cobardemente atrás da esgotadíssima alternância democrática?
Há muito que deixei de acreditar.
Há muito que o meu voto é branco. Se me voltarem a chamar, eu vou, mas, como
nas últimas vezes, vou sem fé. Talvez só mais consciente do que aqueles que
escolhem mais do mesmo.
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