terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Berlin revisited (part 1)



São 8 horas e dezanove minutos da manhã do dia 14 de Abril de 2008. Antes de escrever "Abril" tive que pensar muito. Acordei há cerca de três horas e, depois de algumas tentativas frustradas em tentar dormir, decidi levantar-me e caminhar devagar com o dia.

Sair para a rua às 6 da manhã, quando o dia ainda cheira a pão fresco, é das melhores coisas que se pode fazer em Neuköln. Faço a Emser str. até desembocar na Hermanstrasse, mas não totalmente, viro logo à direita para ir à Backerei (padaria, que isto os nomes de sobrevivência aprendem-se na língua local) das únicas alemãs que se atrevem a ter um estabelecimento, por estas bandas e que nem sequer são simpáticas, mas têm uns belos croissants e pão fresquinho. Compro dois croissants e dois pães, porque somos dois lá em casa e há quem cultive o gosto da simetria. Paro no turco que tem uma Tante-Ema-Laden (aprendi esta há pouco tempo e já é das minhas palavras favoritas, literalmente quer dizer a Loja da tia Ema, vulgo "mercearia"), procuro o leite, encontro, espero que apareça alguém. Não há sinal de gente viva! Olho para as prateleiras que fazem lembrar a mercearia do meu avô, quando eu chuchava no dedo em 1976 e, para além das sardinhas em lata e do atum, bato os olhos com latas de vários tamanhos de leite NIDO, que para além da infância também me faz lembrar África. E o caprisone, que anda a rodos nesta terra; aqui, na mercearia do turco (como se dirá “mercearia” em turco?), foi substituído por um sumo de laranja com legendas em árabe, o que me provocou o seguinte pensamento simples (que isto a esta hora não há que complicar muito): Marrocos, Marrocos, Marrocos… à medida que pensava "Marrocos" ia sorrindo na mercearia do turco e, sem me aperceber, já estava a sorrir para o turco, que meio atabalhoado calçava, ainda, as meias, trocando ora os pés, ora as meias. A baralhação era tanta que até eu trocava os olhos e ria muito por dentro, até quase rebentar.

Voltei a casa, fiz uma meia-de-leite e comi um croissant com queijo. O rouxinol cá de casa levantou-se e surpreendeu-se com a minha inesperada velocidade matutina. Trocámos bons-dias, sabendo de antemão que o dia estava para ser bom. Entre sorrisos e palavras trocadas, tínhamos, ainda, tempo para ir lendo os despojos de jornais em cima da mesa da cozinha. Eu li uma crónica inteira da revista do "Die Zeit", onde se falava de livros e de uma forma particular de organizar bibliotecas pessoais. O autor da crónica advogava que a sua biblioteca pessoal era tanto mais rica, quanto mais livros conseguia pôr de parte. O Daniel concorda com ele, a mim faz-me confusão ver-me livre de livros… mas talvez também concorde que podemos fomentar a qualidade de uma biblioteca, sabendo com exactidão o que conservar nas prateleiras.

Ele saiu e eu pus-me a escrever esta nota, deste dia, que ainda mal começou e já me fez sentir bem. De seguida, vou descer, pegar na minha Steffi (nome de baptismo da minha bicicleta) e vou pedalar até à Karl-Marx-Strasse e ver como fervilha esta pequena Istambul a horas de pegar o dia. Se tiver tempo e vontade, venho cá dizer a que horas o larguei.

Um bom dia a todos!

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