II
Na confusão dos sonhos procuramos
pontas soltas, pomo-nos logo a uni-las. Voltamo-nos na cama sem saber que nos
voltamos, a não ser que estejamos acompanhados, falamos alto até em línguas que
desconhecemos, somos capazes das maiores resoluções. Os problemas são coisa do
estar acordado. A terra dos sonhos é a mesma da poesia.
E, no entanto, acorda-se para se
agir. Perdi todos os versos que sonhei, não haverá meio de os recuperar,
fica-me, ao acordar, este amargo de boca constante. O café que nos põe no mundo
atira-nos, num ápice, para a sanita: ali nos despejamos. Não há metáfora
nenhuma nisto. O único lugar onde nos despejamos verdadeiramente é esse, caso
exista. A única coisa que verdadeiramente se despeja de nós é o que ali fica.
Tudo o resto, o dia que se avizinha, as acções que nele pousarem, apenas
metáforas.