O
palavrão acima não é esse, é o outro. Eu não sou brasileira nem
Dilma. Mas se fosse Dilma não seria brasileira, seguramente. Há
muito que teria abdicado, não só do cargo político como,
essencialmente, do vínculo social e cultural, que à minha volta se
fabricaria (note-se que não me afastaria da cultura e dos traços
sociais espontâneos). Num país onde se congemina e se ferra
o povo de forma obtusa, cobarde (ou covarde, tanto faz!) e hipócrita,
através de um estrangeirismo, eu não viveria. Dilma não será
destituída do seu cargo, não haverá uma dissolução
das suas funções, o seu mandato não será impugnado, nada
disto acontecerá em bom português, porque os seus congeminadores,
de tão absurdamente polutos, preferem esconder-se atrás dum
anglicanismo bafiento e incompreensível para a esmagadora maioria do
povo que representam. Esta simples questão lexical deveria servir
para ilustrar o mau cheiro que envolve toda esta trapalhada de
contornos democráticos muito duvidosos. Não, não há um
impeachment de Dilma no Brasil, o que há é, obviamente, uma
ferração total.
A
divisão a que se tem assistido (ao longe e sem grande conhecimento
de causa, claro está!) da opinião pública brasileira não é, de
resto, novidade nenhuma. Pousei recentemente mãos e pés naquele
território e nada disto me surpreende. O que me surpreendeu foi
perceber que os inúmeros estereótipos acumulados ao longo de uma
vida de convívio (inevitável) com as novelas da Globo, não
são, afinal, apenas estereótipos. As divisões de classe e racial,
que vi em poucos dias, são constrangedoras, mesmo quando agarramos
nas mãos uma maravilhosa e insubstituível água de côco. Essa
divisão existe. Faz-se. Constrói-se e alimenta-se todos os dias. É
conveniente, como é conveniente afastar Dilma e o PT, e todos os que
a pulso tentam dar alguma dignidade a quem não conhece sequer o
termo.
Se
eu fosse Brasileira (e nem precisava ser Dilma), agarraria nesses
tratantes e dar-lhes-ia a escolher entre esmagar a caixa esquelética,
que lhes protege a amostra de cérebro, na pedra da Gávea ou no
Calçadão, enquanto os instruiria cuidadosamente sobre algumas
questões lexicais básicas e essenciais. Saibam, por exemplo que
impeachment é um termo muito
parolo, principalmente, quando acompanhado de tantas chiantes. Caso
desconheçam o conceito de parolo,
vão impeachar-se da
ignorância e da sonsice, se fazem favor!
Se
acharem que este texto é niilista, talvez não passem completamente
ao lado da sua essência. Não tenho o hábito de me curvar perante
autoridades estabelecidas sem princípios. Sugiro que façam o mesmo.
Força,
Brasil! Força, meus queridos amigos lúcidos!
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