terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O tamanho das mãos



Em cada linha que escrevo
A cada pensamento acabado
Por  cada verso que rima
Em cada palavra que trago
Minto.
(Que bem que o fiz ainda agora)
Sentir, vou sentindo
Mas ao buscar ideias para dizer o que sinto
Minto.

Todas as ideias são feias
Quando se põem a sentir
Todos os sentimentos
Quando se põem com ideias
Não fazem senão mentir.

Por isso, minto:
Cai-me suor das mãos para as teclas
Por onde mentiras escorrem secretas
Disponho em linhas tudo o que sinto
E essas linhas com que me coso
É que escondem verdades minhas.

Na verdade, minto:
Pouso sobre o que sinto
O tamanho das mãos
Cuja sombra revela a escrita
- Desdita tamanha! Pobres garras!-
E nunca minto sobre o que sinto.

Minto. É verdade.
Se mentir assim é pecado
Não posso mais que render-me a este fado:
Quando Caronte colher as moedas
Que sobre os meus olhos ireis colocar
Dir-lhe-ei, ali, sobre as turvas águas
Sem medos, rancores ou mágoas:
Que deus não me perdoe!

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