segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Zapping nas bocas do mundo



“Na nota hoje divulgada, é dado a saber que o júri ratificou a proposta de um dos membros no sentido de ser recomendado para publicação o romance “Zapping sobre as madrugadas idênticas”, de Maria Eugénia da Silva Brito, pela originalidade do tema, estilo narrativo intenso e bem construído, mantendo o leitor numa expectativa constante até à resolução da trama ficcional.”



O parágrafo acima é retirado de uma nota (pelos vistos), retirada de outra nota divulgada pelos organizadores de um prémio literário (Prémio Nacional Dias de Melo, das lajes do pico, nos Açores). Não ganhei o prémio, mas o livro foi “recomendado para publicação”, o que é de enorme lisonja (e de alguma estranheza também, pois parece-me isto inédito: menções honrosas são normais, agora ratificar opiniões de um dos jurados, parece-me estranho). Seja como for, o reconhecimento sobre aquilo que fazemos sabe sempre bem. E sobre esse assunto não tenho mais nada a dizer.


Há, no entanto, coisas que devo dizer sobretudo àqueles que visitam este blogue espontaneamente, o que quer dizer, que de facto apreciam o meu trabalho e querem segui-lo. Não vos quero agradecer porque estas coisas não se agradecem, mas quero talvez pedir-vos desculpa por fazer cu doce (enorme expressão brasileira, que significa exatamente isso: Pôr açúcar no cu com segundas intenções). 


Temendo que isto fique demasiado críptico, passo a explicar: Orgulho-me de dizer que o “zapping sobre as madrugadas idênticas” é muito mais do que um livro, um projeto pioneiro e único em todo o país, desde o reconhecimento pelo júri do Prémio Literário Cidade de Almada- 2010 (Isto do que é público). Todos os que aqui vêm sabem que a edição é minha, mas não saberão muito bem porquê. Eu digo-vos: porque as editoras não estão interessadas em fazer o seu trabalho convenientemente. E com todo o respeito que tenho por aqueles que tentam, quero que isso fique bem vincado: foi por verificar a manifesta incompetência das editoras deste país, que me decidi por uma edição de autor. Sei que isto pode parecer uma generalização parva, mas vamos lá a raciocinar em conjunto: O meu livro ganhou um prémio, é notícia num jornal de dimensões nacionais – O Expresso (mas creio que só na edição online), há outras referências na imprensa, a coisa é falada. E de todo o universo de gente que trabalha em edições de livros, eu recebo duas propostas: uma seguramente desonesta, a outra sem grande convicção. Espero mais um pouco. Não acontece nada. Porquê? – Porque estes senhores, ao invés de fazerem o seu trabalho e procurarem o que mais lhes deve interessar (livros e escritores), ficam à espera que seja o autor-coitadinho a suplicar – Não o fiz, claro! – O meu trabalho é escrever, não é publicar.


Agora, reparem nisto: o “zapping” é distribuído apenas em livrarias independentes, deixando de fora, intencionalmente, os grandes grupos livreiros. (parece que recentemente Pilar del Rio tomou também parte de uma iniciativa de incentivo às livrarias independentes - bem haja!); Por essas livrarias andamos, eu, o livro e a minha “agente” e amiga Maria do Sameiro (que sem qualquer currículo na área fez mais trabalho do que faz qualquer distribuidor instalado no mercado – declarações dos próprios livreiros), em conversas e apresentações sempre muito agradáveis. Algumas iniciativas originais são tomadas, de entre as quais refiro a oferta de livros a passageiros da CP- iniciativa que a própria CP parece ter copiado (em boa hora, e sem ressentimentos!).


O envio do Zapping para outro prémio, com características idênticas, é parte desse trabalho de distribuição (não estava à espera de ganhar outro prémio, mas foi uma boa hipótese de provocar a sua leitura). Estes prémios de menor dimensão monetária têm, por vezes, gente de maior valor literário do que os grandes prémios cheios dos vícios das editoras e de alguma imprensa (normalmente a que se dedica precisamente aos livros e que tem ligações aos grandes grupos editoriais, por isso, fala só do que lhe convém). A “panela” das centenas de milhares de euros é muito pequena e em termos de aprendizagem sobre a escrita vale o que vale (é sempre incalculável, claro), mas não vale seguramente pela novidade ou inovação.

As minhas desculpas são para as pessoas que não terão oportunidade de ler esta nota, nem nenhumas das que por aqui vou pondo. Se houvesse outra imprensa em Portugal, talvez já tivessem ouvido falar do “Zapping sobre as madrugadas idênticas”, talvez até já o tivessem lido e ninguém aqui teria que se lamentar ou agradecer.

Não quero com isto dizer que escrevi o maior livro de todos os tempos e que ele foi injustiçado. Quero com isto dizer que, provavelmente, os melhores livros que se escrevem no mundo não foram nem nunca serão revelados ao mundo. E eu tenho muita pena!



Parabéns ao João Negreiros pelo primeiro romance e pelo prémio agora recebido! 





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