Guardo esta frase, como uma das mais marcantes da língua alemã. Devo tê-la ouvido uma vez por cada dia que passei em Berlim. E isto não equivale a dizer que a tenha ouvido todos os dias, pois foram muitos os dias de temperaturas impraticáveis para a minha descida à rua, e muitos outros em que saía a pé ou de bicicleta, por isso, não usava o metro e não ouvia aquelas palavras.
A frase significa, algo como : “afaste-se, por favor” e é dita quando as portas do comboio se abrem para a entrada e saída de pessoas. (Coisas de cidades grandes). Sem perceber muito bem porquê, sempre me causou uma certa angústia. Agora, à distância, penso que percebo esse sentimento e que a minha primeira perceção desse enunciado era, afinal, a mais correta. “Zurück” significa “atrás” e “bleiben” ,“permanecer”. Quando ouvi aquela frase pela primeira vez, o conhecimento tacanho que tenho da língua alemã, pôs-se a fazer uma tradução literal da frase: “permaneça atrás, por favor”.
Nos últimos dias, esta frase e o irreprimível frémito de medo que me causava voltou a ecoar na minha cabeça. Sempre que Angela Merkel se refere ou se dirige aos gregos, é isto que oiço: “Zurück bleiben, bitte”, quando Vítor Gaspar se ajoelhou em frente ao seu homólogo alemão, Wolfgang Schaube, o que eu o ouvi dizer foi “zurück bleiben, bitte”, quando o “milagre económico alemão” é destacado do resto dos países europeus, através das demagógicas taxas de desemprego (que escondem, por exemplo, sete milhões de trabalhadores precários), o que eu oiço é isto: “Zurück bleiben, bitte”, quando vou ao multibanco, o bonequinho verde não sorri e diz “Zurück bleiben, bitte”, quando saio à rua e penso fazer qualquer coisa mais do que sair à rua, as ruas gritam: “zurück bleiben, bitte”...
De tanto ouvir isto, a minha mente vai ficando acamada nesse espaço remoto, onde já quase nada se alcança. E tenho medo, muito medo de permanecer atrás, como me tem sido indicado.
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