Sei cá de uma história em que
Um jovem lavava os pés
E encontrava o seu primeiro amor
(Descalço)
Encontrava o seu único amor.
Os sapatos que um dia viu numa cena de um filme
(em que um piano ardia)
Nunca se lhe ajustaram à vista
Nunca se lhe ajustarão aos pés
Esses pés limpos que sempre caminharam
Nus
Ajustados ao chão que pisavam livremente.
Eu, que até uso botas e lhes mudo as solas
E que em criança encomendava sandálias a um sapateiro mentiroso
(o mesmo que, no couro, cosia bolas)
Também trago os pés limpos, rentes ao chão
E sei de cenas de filmes em que ardem pianos.
Parece pouca cumplicidade, mas não
Sou tão cúmplice e responsável com pés limpos
Como com esta luva que me esconde a mão
Onde grita o medo e a opressão
Dos que vivem ali, naquela longa Faixa
Afastando dia-a-dia os escombros que foram casa
Aturando a perfídia de altos fazedores de luvas
Que escondem o sangue das mãos e esmagam Gaza.
Sou cúmplice porque me calo e cúmplice porque falo.
Tenho um certo estado de felicidade
É verdade.
Mas isso não me iliba de cumplicidade.
acho pertinente e impulsionador à reflexão, à acção a que ja nos desabituamos porque já fechamos os olhos e a alma ao que é "habitual" acontecer no mundo que devemos achar que é só deles, dos outros.
ResponderEliminarE somos cumplices sim, talvez duma forma tão pecaminosa qt à deles, dos senhores das luvas.
Seremos mais até....pq eles acreditam que o fazem por causas justas, ideológicas, culturais, etc...mas nós temos consciencia que não é assim, nós temos consciencia dos valores da vida alheia, da liberdade de expressão.
ainda assim....calamo-nos