quarta-feira, 16 de junho de 2010

Ryan Nash was waiting to be a poet


Ryan Nash is waiting at Admiralbrücke
He is waiting now there While I ride his green bicycle around kreuzkölln
Ryan Nash is sitting on a bridge waiting for Paula

Jean Paul Sartre would never wait for Simone sitting on a bridge

He thinks

While a poem grows smoothly underneath his fingers

Ryan Nash is waiting to be a poet

While smiling underneath his subtle poetical grief

Gently lifting a glass to his mouth

Like he knew Yeats would have done

While waiting for the birth of his Drinking Song

And he is still waiting on that bridge

And I’m still riding around on his green bicycle

And that “p” for Paula will soon be the same “p” for poem

Though both “p” and “p” are driven by discovery

Ryan Nash isn’t yet aware of that

One is meant to be found the other is meant to be.

This he knows for sure while waiting to be a poet

While I ride around Berlin sitting on that hard saddle

Merry-go-round with two broken pedals

While Ryan’s own saddle was to be ceased

As he stretches his eyes along the river crossing the park

And

There she was being a poem

And

So he was being a poet.


segunda-feira, 7 de junho de 2010

Estado Geral de Cumplicidade

Sei cá de uma história em que

Um jovem lavava os pés

E encontrava o seu primeiro amor

(Descalço)

Encontrava o seu único amor.

Os sapatos que um dia viu numa cena de um filme

(em que um piano ardia)

Nunca se lhe ajustaram à vista

Nunca se lhe ajustarão aos pés

Esses pés limpos que sempre caminharam

Nus

Ajustados ao chão que pisavam livremente.

Eu, que até uso botas e lhes mudo as solas

E que em criança encomendava sandálias a um sapateiro mentiroso

(o mesmo que, no couro, cosia bolas)

Também trago os pés limpos, rentes ao chão

E sei de cenas de filmes em que ardem pianos.

Parece pouca cumplicidade, mas não

Sou tão cúmplice e responsável com pés limpos

Como com esta luva que me esconde a mão

Onde grita o medo e a opressão

Dos que vivem ali, naquela longa Faixa

Afastando dia-a-dia os escombros que foram casa

Aturando a perfídia de altos fazedores de luvas

Que escondem o sangue das mãos e esmagam Gaza.

Sou cúmplice porque me calo e cúmplice porque falo.

Tenho um certo estado de felicidade

É verdade.

Mas isso não me iliba de cumplicidade.