segunda-feira, 22 de julho de 2013

Da vergonha e outros sentimentos coletivos


Não raras vezes, sinto vergonha por atitudes alheias: é o escarro no chão, é o trapaceiro na fila de trânsito, nos correios, nas repartições públicas, ou onde for; é o comentário despropositado, é a ironia perdida, é o literalismo cego, é o piropo bronco, é o “saloiísmo” agudo, é o pseudo-intelectualismo grave, é a falta de escrúpulos, é o avolumar e o aplauso massivo da vulgaridade, é a falta de vergonha na cara, é essencialmente, a falta de cara, de rosto, de bom gosto, de bom-tom, de bom-senso!
Os últimos labirintos excrescentes dos nossos representantes institucionais enchem-me de vergonha.
Tem-se extrapolado demasiado sobre a ameaça que representa a falta de sentido  democrático desses atores do vazio,  dos perigos da Europa a duas bitolas, da galvanização do poder da Alemanha sobre a Europa do sul. Fala-se muito de tudo, na verdade. Fala-se tanto, que nos esquecemos dos imensos silêncios incómodos de quem tem que forçosamente calar. 
Não se fala da vergonha porque a vergonha não se põe em textos, nem em imagens, nem nas bocas dos pleonásticos comentadores políticos, que não sabem o que isso é. E não se percebe globalmente que a vergonha é aquilo que se armazena na antecâmara do medo, esse glutão. 
Eu tenho vergonha da (boa?) reação dos mercados à política de continuidade do nada, do psi 20 em alta, dos indicadores macroeconómicos espremidos e organizados em trimestres, das contrações e rebentamentos d' água da zona Euro.

Eu tenho vergonha por esta gente que me representa, que faz que age, que faz que faz. Eu tenho vergonha na cara e apetece-me escarrá-la na cara deles. Eu tenho vergonha de ter vergonha e de vir a saber o que é o medo.