A propósito do
último post e essencialmente para
aqueles que estão a pensar: “ah, grande coisa, vender 600 livros num ano!”, tenho
várias coisas a dizer:
Primeiro: é
uma grande proeza, sim senhor, distribuir livros de uma escritora que nunca
ninguém viu nem em revistas, nem em jornais, muito menos em televisões (sobre
isto não me alongarei, pois tomo os escassos leitores deste espaço como pessoas
razoavelmente inteligentes e bem informados ao ponto de perceberem o
funcionamento do mercado livreiro neste país).
Segundo:
Distribuir um livro sem editor e sem distribuidor é obra de gente movida a
muita paciência, persistência, um travo de loucura e, essencialmente, amor - Aqui
há de tudo isso em doses generosas.
Terceiro: Não
há público leitor em Portugal. Há umas pessoas que leem uns livros e, essas
pessoas e esses livros repetem-se muito. Nenhum dos supostos amantes de
literatura deste país se atreve por uma leitura não referenciada.
Quarto: o meu
livro só seria referenciado se eu fizesse aquelas coisas inauditas que as
pessoas fazem para que os críticos gostem de os criticar. É sabido que eu não
faço coisas inauditas. A única coisa que faço, em relação a isso dos livros, é
escrever, com o intuito de, de vez em quando, escrever excepcionalmente bem.
Mais do que isso é fastidioso.
Quinto: Se uma
editora (daquelas a sério, como ainda há quem julgue existir em Portugal)
tivesse editado o meu livro, seguramente, há mais de um ano que ele estaria
fora de circulação e grande parte da edição poderia muito bem ser dada a abate.
Sexto: as
livrarias portuguesas sofrem imenso com a falta de hábitos de leitura neste
país. Eu tentei perceber como sobrevivem, tentei até ser solidária com elas ao
dar-lhes o exclusivo desta edição (as grandes superfícies comerciais foram
propositadamente excluídas da distribuição). Muitas não souberam apreciar o
gesto, outras ganharam novo alento com a ideia, outras desapareceram a meio do
processo. Eu, no fundo, não fiz mais do que saber de tudo isto por dentro.
Sétimo: os
escritores portugueses não se importam de ser mal tratados. Não se importam com
a miséria de direitos de autor que ganham ou não ganham, ou perdem, ou até nem
sabem muito bem o que isso significa. Ganham dinheiro através da escrita, mas
não necessariamente com aquilo que escrevem. E aceitam isso. E acham isso
razoável. Acham aceitável autoproclamarem-se escritores porque fazem aparições em sítios, como aquelas pessoas
dos reality shows. Seja como for, os
escritores portugueses sofrem imenso com a falta de hábitos de leitura neste
país, tal como os livreiros; quanto mais não seja porque amam os livros e porque
é triste ver os que amamos votados à solidão e ao abandono.
Oitavo: “livros
são papéis pintados com tinta”, quem não percebe a ironia contida neste verso, pode
voltar a ler tudo de novo.