Moro onde começa a cidade
Vejo-a de cima
Debruçada na varanda.
Uma chusma de pregões dispersa
Sobe pelas fissuras das casas
Entra-me pelas narinas
Em aromas de salsa e coentros
Que sobram aos cestos cheios
Alinhados num chão pétreo.
Os infantes ciganos retesam-se nas tendas
Acima do frio e da bruma
Soltam aplausos às próprias palavras
chispadas pelo olhar agudo de um pai.
Acordo onde começa a cidade
Das igrejas manda-se o tempo passar
Sonoramente
A cada quarto de hora
Um galo canta até que seja meio-dia.
Piropos escorrem brutamente
Das bocas dos feirantes
Moças redondas escorregam torpemente.
Uma mãe passa por outra mãe
Perante o meu olhar que desperta
Sopesam-se
Tudo é som, cheiro e alimento.
Moro onde começa a cidade
Entre as mães
E a vida.